quinta-feira, 16 de abril de 2015

DIREÇÃO SIMULADA

"QUANDO ESTOU AQUI / EU DECIDO IR LÁ / QUANDO ESTOU LÁ / EU DECIDO VIR AQUI / —SEM TRANQUILIDADE"


Todo dia, em todo lugar, todos nós que nos movemos de um lado para o outro queremos uma só coisa: chegar ao nosso destino da forma mais fácil, tranquila e feliz possível.
O trânsito é uma simulação das nossas vidas. Ele está em todos os países e dias da semana, afeta pessoas de todas as cores, credos e classes. A busca pelo caminho de menor sofrimento afeta a todos e nos faz ficar pensando o que nos faria chegar mais rápido e no tempo certo.
Às vezes apostamos numa mudança de faixa, afinal a faixa ao lado sempre anda mais rápido. Mas é só mudarmos pra esta faixa que aquela começa a andar e parecer melhor. Às vezes apostamos num desvio ou caminho diferente pra descobrir, lá na frente, que este novo caminho também tem muitos semáforos e carros. Às vezes apostamos num jeito diferente de chegar ao destino, indo de bicicleta ou à pé. Mas isso não impede que a gente também sofra os efeitos da aglomeração de carros e pessoas à nossa volta. Não tem jeito.
A loucura é tanta que quem está dentro do carro, vê todos os outros automóveis como potenciais oponentes à sua busca. Uma freada ou cortada de alguém é motivo de xingamento pra todo lado — afinal o outro só pode estar querendo atrapalhar o percurso, né? A gente nem vê direito os pedestres ou ciclistas, de tão fechados que ficamos. Nos colocamos no trânsito e vamos guiados por nossos impulsos, e no fim parece que estamos num jogo sem metas claras, onde cada um de nós é o único jogador.
Entre uma esquina e outra, ligamos o rádio, mexemos no celular ou ruminamos situações passadas em busca de algum entretenimento, escape ou apenas pra alimentar uma fantasia de controle — já que todo o caos à nossa volta é incontrolável.
Se chegamos ao destino final de manhã, sempre haverá o trânsito da noite. Se esquecemos do congestionamento de noite no happy hour, a mesma rotina já nos espera implacável no dia seguinte. Desse jeito não temos opção viável.
Desde o carro até o trânsito, tudo vai operando, como um jogo jogado por cada um. Assim como são, também, os nossos relacionamentos, nossa carreira, nossos orgulhos, nossa vida.
Talvez o melhor seria não estarmos tão fixados em nossas próprias ideias sobre como, onde e quando deveríamos chegar —  não vamos sofrer por causa do "trânsito". 
Pense nisso das próximas vezes em que estiver "dirigindo"!

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