POR QUE DEIXAR PARA O PRÓXIMO ANO? ... OU MELHOR: POR QUE AINDA NÃO ESTÁ FAZENDO?
Existe uma ideia evolutiva, que paira em nossa cultura, de que hoje somos melhores que ontem e amanhã seremos melhores que hoje.
Isso leva as pessoas a se perceberem subindo uma rampa imaginária para uma condição mais sofisticada de si mesmas que o dia anterior. E, mesmo sem esforços ou trabalho pessoal extra, acreditam-se arrastadas por uma correnteza que a faz evoluir.
Essa atribuição do tempo como curador de mágoas e transformador de caráter é falha, ainda que muitos acreditem. Nesse caso, a velhice resumiria o ícone da vida plena.
Se isso é verdadeiro, porque vemos tantas pessoas idosas mimadas, deprimidas, lamentando a vida e sem nenhuma alegria de viver?
Certamente, não é porque os filhos desaparecem ou a aposentadoria é lamentável, mas provavelmente porque não criaram uma vida com algum tipo de significado ou reuniram uma rede de pessoas queridas em sua volta.
Os que fizeram isso, estão bem acompanhados e com pelo menos algum trocado no bolso. O tempo não opera milagres, visto que é apenas a sucessão de minutos, e agora que já não estão protegidas pela jovialidade, deixam transbordar seu descontentamento de décadas com o ônus de fraqueza e doenças.
Até que ponto alguém realmente se torna mais complexo, maduro, responsável, livre e lúcido por pura inércia?
Já repararam... o fim do ano sempre anuncia que o próximo ano será melhor que o anterior. Esse é um raciocínio automático e pouco provável.
Os otimistas parecem tomar um fôlego psicológico a fim de renovar suas esperanças torcendo por uma correnteza que progride inevitavelmente.
Acho até válida a perspectiva cíclica que nos lembra que o tempo passa e estamos nos encaminhando para a morte. Essa finitude concreta, marcada pelo fim do ano poderia nos fazer arregalar os olhos para a importância de cada minuto irrecuperável.
Todo dia do ano é um convite para uma mudança que não precisa ser radical, o ano novo realmente acontece a cada ato prático, insistente e dedicado para substituir uma atitude problemática e colocar no lugar outra que gere felicidade.
A mudança nem sempre precisa ser pensada ou racionalizada, pode ser um simples dobrar de esquina na direção contrária.
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