UM EXERCÍCIO PARA PRATICAR:
NÃO SE COMPARE. NÃO PENSE NO QUE TERIA FEITO NO LUGAR DO OUTRO. NÃO JULGUE.
Quando as pessoas exaltam frases como "trate os outros como gostaria de ser tratado" ou "não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você" entendo que essas frases de suposta sabedoria tem a ver como o processo de civilização. Fico imaginando que essa regra foi valiosa para colocar algum parâmetro, ainda que limitado, para pessoas que cortavam cabeças com muita facilidade.
Para alguém que nem se dá conta que o outro existe esse conselho é inicialmente válido, é um meio termo tolerável.
Mas para quem quer avançar, a ideia é totalmente insuficiente. Por exemplo, já vi pessoas que são super auto-críticas (tratando isso como uma virtude) até destrutivamente e que tratam os outros com a mesma rigidez com argumento que "se com ela é assim com o outro não pode ser diferente". Daí dá pra se pensar na ineficiência do conceito. O eficiente seria que você saísse dos seus parâmetros morais e se colocasse completamente na perspectiva do outro, da história dele. O que é bem difícil, procuro fazer o exercício mas estou engatinhando.
Portanto não é bem verdade que devemos tratar as pessoas com gostaríamos de ser tratados, porque a outra pessoa é uma outra pessoa, porque ela teve outra vida, outras experiências, porque ela tem outros traumas, outras necessidades.
Basicamente, porque ela não sou eu. Porque eu não sou, nem nunca vou ser, nem devo ser, a medida das coisas.
Utilizar a mim mesmo, minhas vontades e necessidades, o jeito que quero ser tratado, como se eu fosse o parâmetro para todas as outras pessoas é a essência da vaidade e do egoismo. É o exato oposto da sintonia.
A outra pessoa deve ser tratada não como eu gostaria de ser tratado, mas como ela merece e precisa ser tratada.
E como vamos saber como essa tal outra pessoa merece e precisa ser tratada?
O primeiro passo é sair de mim mesmo e deixar de me usar como parâmetro normativo do comportamento humano. Essa é a parte fácil.
Depois, preciso abrir os olhos e os ouvidos e o corpo inteiro, e reconhecer que existem outras pessoas no mundo, e que elas são todas bem diferentes de mim.
E que o único jeito de perceber o quão diferentes elas são é enxergando-as, escutando-as, conhecendo-as.
Com atenção plena. Para tentar a sintonia, é preciso antes reconhecer que não sabemos nada das pessoas.
Que a vida de cada pessoa inclui um horizonte de acontecimentos que se estende perpetuamente além de nossa visão: os problemas crônicos de um idoso pode está conectadas a sua culpa que está conectado ao seu casamento que está conectado aos seus filhos que estão conectados aos seus próprios dias de menino...
Entrar em outra pessoa é como visitar um país estrangeiro: temos que passar pela imigração e pela alfândega, caminhando com cuidado, de pergunta em pergunta, de sentimento em sentimento.
Estabelecer um contato assim é tentar entrar em outra pessoa, nesse país estrangeiro, mas sempre reconhecendo que jamais, jamais conheceremos realmente essa pessoa, que nunca seremos cidadãs desse país.
A leitura deste texto nos convida a entrar completamente na vida do outro! Saber que nós somos diferentes de todas as pessoas e que cada um tem uma história e merece ser respeitada e entendida em todos os sentidos... Essa é uma visão para aplicarmos em nossas relações. Que é bom que você possa olhar o outro assim e que o outro também possa te olhar com generosidade.
Se você fica pensando: como vou fazer isso?... Entender por que uma pessoa não gosta de mim, me persegue, me calunia... entender o que eu não entendo... Basta apenas não entender, não saber, não perguntar... e assim, por mais estranho que possa parecer, seremos seres humanos um pouco melhores.
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