O MAIS FRÁGIL DE NOSSOS DELÍRIOS COTIDIANOS
Melhor do que fazer planos é assumir logo de cara que por mais bem planejado que você esteja, um acidente, um erro, e tudo pode sair dos trilhos.
Penso que nossa ilusão de controle é o mais frágil dos nossos delírios cotidianos. Por algum motivo, acreditamos que estamos seguros. Prometemos aos outros e a nós mesmos que estaremos lá – onde e quando quer que seja. Pois é, isso é o que nossa síndrome de super-homem nos faz acreditar, nessa fantasia pessoal tudo está a seu favor e vai dar certo. Existe um certo otimismo irreal que domina nossos sentimentos mais profundos. Isso quer dizer que em nossa vida prática tudo vai sair “conforme o planejado” mesmo que agente não tenha feito nenhum plano concreto para isso.
Até que de vez em quando, temos lapsos de compreensão da nossa fragilidade e vulnerabilidade – para voltar à sonolência usual logo em seguida.
Mas acho que já defendi meu ponto: não temos qualquer garantia na vida.
Mas e daí? Abraçamos-nos todos e esperamos a morte chegar? Antecipamos a coisa toda e vamos nós ao encontro da morte?
Creio que não. Nesse ponto eu compartilho um pouco da visão de que cada coisa tem sua hora e quando chegar a hora de morrer, eu morro.
Se a própria dor e a possibilidade da dor fazem parte do que nos define, é só quando aceitamos a dor, quando nos dispomos a perder tudo é que podemos fazer qualquer coisa.
Estando atento – e aberto – à possibilidade do soco é que se vive para além do medo e do controle. É atravessando o caos de olhos bem abertos que experimentamos plenamente o mundo.
Lembrando-nos da morte (da dor, dos obstáculos, das armadilhas) não nos distraímos dos nossos projetos verdadeiros. Não custa nada reforçar, de novo e de novo, que não temos tempo a perder.
“A vida só se dá pra quem se deu ”, como dizia o poeta.
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