COMPROMISSO MÚTUO TOTALMENTE EXPLÍCITO SEM GARANTIAS
Uma das características mais esquisitas dos relacionamentos é que, no fim das contas, o medo da rejeição nunca acaba. Continua, mesmo nas pessoas completamente sãs, e em termos diários, com algumas consequências devastadoras.
Parece que dentro de nossas psiques a aceitação nunca é tomada como garantida, a reciprocidade nunca é certa; sempre é possível que novas ameaças surjam, reais ou imaginadas, perante a integridade do amor. O desencadeador da insegurança pode ser aparentemente minúsculo. Talvez o outro esteja trabalhando mais do que o esperado; ou conversava animado com um estranho em uma festa; ou já faz um tempinho desde a última vez que se relacionaram intimamente . Talvez o outro não tenha sido tão acolhedor quando entrou na cozinha. Ou esteja muito quieto na última meia hora.
Mesmo depois de permanecer anos com alguém, ainda pode haver um rodamoinho de medo com relação a pedir uma prova do que queremos. Mas a isso se adiciona uma complicação terrível: agora presumimos que esse tipo de ansiedade não era para existir.
Em vez de pedir por algum conforto de forma carinhosa e apresentar nossos anseios com charme, pelo contrário mascaramos nossas necessidades por trás de alguns comportamentos brutos , o que garante que frustremos essas mesmas necessidades. No contexto dos relacionamentos estabelecidos, quando negamos o medo da rejeição, três sintomas principais tendem a aparecer:
*Um: nos distanciamos
Queremos nos aproximar de nossos parceiros, mas nos sentimos tão ansiosos quanto a sermos indesejados que os congelamos lá fora.
*Dois: ficamos controladores
Ao sentir que estão nos escapando emocionalmente, respondemos tentando enquadrá-los “administrativamente”. Algumas ficam indevidamente furiosas com os atrasos, xingam por não completarem certas tarefas cotidianas, enchem o saco constantemente pedindo para que realizem uma tarefa que concordaram em fazer. Tudo isso para não ter que admitir: “estou preocupado que você não se importe comigo...”
Como não podemos forçar ninguém a ser carinhoso. Como não podemos forçar ninguém a nos querer. Então tentamos controlar em suas ações. A finalidade não é realmente ficar na posição de mandão o tempo todo, só não podemos admitir nosso terror perante o quanto já nos rendemos ao outro. Um ciclo trágico então se desenrola. Ficamos desagradáveis e estridentes. Para a outra pessoa, parece que não somos mais capazes de amá-la. Ainda assim a verdade é que a amamos: só temos demasiado medo de que não nos ame.
*Três: ficamos malvados
Como recurso final, protegemos nossa vulnerabilidade ao denegrir a pessoa que nos escapa. Espezinhamos suas fraquezas e reclamamos de seus defeitos. Tudo para evitar a pergunta que tanto nos perturba: essa pessoa me ama? E ainda assim, se esse comportamento grosseiro e feio pudesse ser realmente compreendido, o que seria revelado não seria rejeição, mas um pedido bem real, ainda que estranhamente distorcido, por carinho.
A solução para todos estes problemas é normalizar uma imagem nova, mais precisa, do funcionamento emocional.
Nunca nos saciamos das exigências por aceitação. Não é uma maldição limitada aos fracos e inadequados. A insegurança é, nessa área, um sinal de estar bem. Significa que não nos permitimos tomar os outros como garantidos. Significa que permanecemos suficientemente realistas, verificando para que as coisas não sigam numa direção ruim – e que nos importamos com isso.
Diante de tudo isso uma coisa é certa, você pode até fazer com que uma pessoa fique com você o resto da vida - seja por chantagem, drama, ameaças, cárcere privado, comodismo, dependência financeira, o que for - mas garantia de que ela vai te amar?
Ah, meu amigo! Aí já são outros quinhentos.
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