quinta-feira, 8 de outubro de 2015

SUPER PESSOA # A SÍNDROME

DEIXA COMIGO QUE EU RESOLVO!


"Deixar um trem passar por cima de mim? Minha lombar tá ótima, ando fazendo muito pilates."

Conhece alguém que sempre acha mais importante ajudar os outros do que a si mesmo?
*Fulano: Ei, você poderia me dar uma mão nesse problema, cara?
*"Super-pessoa": Manda, eu te ajudo!
Esse diálogo poderia ser um belo gesto de generosidade. Mas não, nesse caso a super-pessoa é alguém com o hábito de oferecer mais ajuda do que consegue seguidamente. E o resultado tende a se repetir, ela falha em dar conta de suas promessas.
Estamos falando de um padrão de comportamento bem destrutivo, que muitas vezes é visto com bons olhos em nossa cultura, o famoso "deixa comigo que eu resolvo! mato no peito! tá na minha!". Existe um gigantesco reforço positivo para pessoas que se dispõem a resolver o que precisa ser feito, ou o que ninguém mais resolve.
Entretanto, pessoas habituadas a essa postura nem sempre conseguem avaliar a extensão e complexidade do problema que se propuseram a resolver.
Não raro estão envolvidas em alguma atividade de ajuda. Mas costumam sofrer com esgotamento físico e emocional, irritabilidade, mudanças de humor, baixa autoestima, ansiedade, depressão. Essas pessoas sequer imaginam que precisam de ajuda. Elas permanecem anos emocionalmente exaustas por um motivo simples: acham que ajudar os outros é mais importante e ou necessário do que serem ajudadas. 
São verdadeiros missionários, mas que muitas vezes se dispõem a fazer tudo que podem pois o que realmente desejam é conquistar a estima das outras pessoas.
Eles acreditam que estão fazendo tudo para ajudar de verdade os outros. Como se fosse uma grande virtude lidar com qualquer tipo de problema, mesmo sob o custo de sobrecarregar e sofrer pesados danos sociais, emocionais, financeiros e até mesmo físicos.
Na prática é uma pessoa cheia de boa vontade, mas que não consegue orquestrar efetivamente a pilha de tarefas que assume, falhando miseravelmente na jornada. Se culpa, sofre, veste a capa do super-herói-mártir e logo entra no ciclo novamente. 
Quanto mais negligencia sua própria vida, inconscientemente sente que merece menos o cuidado dos outros. Quanto menos dá atenção a si mesmo, mais carente fica, necessitando ajudar os outros para se sentir validado e importante. Um verdadeiro buraco (sem fundo) emocional.
Para sustentar esse ciclo de "superação" constante é bem comum que a sobrecarga se converta em sintomas severos.
As dívidas podem surgir por conta de uma desorganização financeira decorrente de tentar fazer tudo pelos outros, mesmo que não consiga pagar ou se sustentar.
Como a pessoa sobrecarregada pouco olha para suas emoções, não percebe quando está triste, com raiva ou medo de algum acontecimento da vida. 
Se perguntar para os amigos da super-pessoa, eles serão unânimes em afirmar que ela é ótima, mas que está sempre ocupada e com uma vida tumultuada.
No íntimo, quem acha que aguenta tudo parece viver sob o peso da culpa constante e numa dívida eterna com relação a tudo e todos (incluindo a si mesmo), em auto-punição permanente.
Se a pessoa-que-acredita-aguentar-tudo pudesse apenas parar e ter mais compaixão consigo mesma, reconhecendo seus limites de modo mais honesto, seria um gigantesco passo.
À partir daí, abrindo caminho para reconhecer também sua vulnerabilidade, pedir e aceitar ajuda (sim, não é crime e ninguém vai te acusar de fraco).
Essa sim seria uma trilha de verdadeira generosidade, consigo mesma e com os outros. Ao reconhecer e acolher nossas limitações podemos entender do que realmente damos conta e do que não. 
Assim carregamos pesos possíveis, levando vidas mais leves e plenas – e deixamos os super-homens para as revistas em quadrinhos. 

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