PORQUE NOS AFETA TANTO?
Resposta: vaidade, apego.
Relacionamento e trabalho são algumas das principais maneiras de criarmos identidades.
Não somos nunca apenas o "Paulo" ou a "Joana". Somos o "Paulo da Maria Teresa". Somos a "Joana da Petrobrás".
Essas identidades nos dão apoio, respaldo, contexto social. Ajudam a sufocar um pouco o vazio existencial que nos oprime.
Por isso, ser rejeitado pela Maria Teresa ou despedida da Petrobrás dói tanto.
Porque não é só um relacionamento ou um emprego que se vai.
Perdemos também aquela personagem que investimos tanto esforço em criar, cultivar, consolidar.
E nem mesmo a certeza de que em breve estaremos em outro relacionamento, em outro emprego, serve para aliviar um pouco desse enorme luto pelo falecimento de mais uma de nossas tantas identidades.
Nunca mais seremos o "Paulo da Maria Teresa". Nunca mais seremos a "Joana da Petrobrás".
Apesar de tanto trabalho, somos de novo só o "Paulo", só a "Joana", pequenas e solitárias primatas, vivendo suas vidas sem sentido na superfície de uma bola de pedra girando em torno de si mesma e se deslocando em círculos pela vastidão vazia do espaço.
A intensidade da nossa dor é diretamente proporcional à intensidade de nossa fé na existência concreta dessas identidades de ficção que inventamos.
É tudo apego, é tudo vaidade.
Acreditamos que, do lado de cá dessa camada de pele, existe o eu, minha identidade, minha reputação, coisas que podem ser protegidas e preservadas; e, do lado de lá dessa camada de pele, existe o universo, as outras pessoas, os passarinhos, os meteoros.
Mas é tudo ilusão. Uma ilusão insustentável. Uma ilusão que nos causa imensa dor sempre que se desfaz, desaba, despenca, desaparece.
Na verdade, não há nada melhor do que terminar uma relação, ser despedida, ser rejeitada e excluída de qualquer projeto, qualquer coisa à qual associamos a nossa identidade para percebermos afinal quem é este "Paulo" ou esta "Joana". A perda é algo inevitável na experiência humana e ensina grandes lições e produz grandes transformações. Mas aí não é todo o ser humano que está disposto a entrar no sofrimento do auto-conhecimento. Quando estas situações nos acontecem são sempre oportunidades de mergulhar no abismo que somos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário