OLHAR POR OUTRA PERSPECTIVA É A MELHOR FORMA DE LIDAR COM EMOÇÕES DIFÍCEIS
Como diria o Bruce Lee:
"Esvazie sua mente de modelos, formas, seja amorfo
como a água. Você coloca a água em um copo, ela se torna o copo. Você coloca a
água em uma garrafa, ela se torna a garrafa. Você coloca ela em uma chaleira,
ela se torna a chaleira. A água pode fluir, a água pode destruir. Seja água meu
amigo".
Pode ser que você nunca tenha sido do time dos calmos. Talvez seja daqueles que está sempre pronto para bater uma porta quando contrariado ou para ser agressivo com quem não estiver de acordo com as suas expectativas, ou de se emburrar e de se aborrecer muuuito. E, claro, que se acha coberto de razão. Talvez ache que as injustiças às quais é submetido te dá a justificativa moral para poder explodir e agredir ou se sentir a vítima atingida até por quem não tem nada a ver com o assunto.
Talvez com grandes mudanças quase simultâneas em sua vida, a coisa piore. O que acabará culminando em algum tipo de tratamento, ou algum tempo de terapia que enfim te faça entrar num processo duro de autoanálise e autorreconhecimento.
Normalmente quando as pessoas chegam nesse ponto, sai de lá dono de uma serenidade que não conseguia ter antes, reagindo de forma tão diferente a certas situações que até se surpreende, num processo de melhoria que vai aperfeiçoando pouco a pouco ao longo de uma vida inteira.
São apenas dois caminhos a seguir em casos de crise emocional. Ou esse, ou o sofrimento perpétuo.
Vou tentar explicar como acontece a transformação.
Mudar um comportamento é complicado. No fundo, as mesmas reações que você sempre teve, sempre se repete. Se der mole, o instinto reativo sempre fala mais alto . Sendo bem sincero, não sei se é realmente possível mudar reações tão bem sedimentadas em nossa personalidade. Só que, cada vez mais, consiguirá domar a besta antes que ela cause transtornos, e isso é um aprendizado diário.
O primeiro passo para saber como mudar o sistema é entender como ele funciona.
Tudo começa com um evento externo, que pode ser qualquer coisa. Depois que o evento externo acontece, a segunda etapa é quando ele é interpretado, consciente ou inconscientemente. Essa interpretação pode ser feita com base em critérios objetivos ou não. Por exemplo você pode pensar coisas como "lá vem a Sílvia tomando conta da minha vida de novo," "puxa, ela me xingou e ninguém faz isso comigo" ou "ah, não, dez minutos esperando o elevador de novo não dá." O resultado dessa segunda etapa é uma sensação qualquer. Raiva, desprezo, alegria, satisfação.
Fechando a cena, essa sensação é expressada: jogando o celular longe, gritando na janela, batendo a porta, tratando com hostilidade a primeira pessoa que aparecer pela frente, ou se deprimindo com a ideia de que viver é muito difícil.
Muitas vezes, a sensação resultante da segunda etapa pode funcionar como um novo evento externo, realimentando o sistema. E aí acontece tudo de novo: a pessoa vê que ficou triste por causa de alguma coisa e fica frustrada por causa dessa tristeza. Além disso, a forma de expressar a sensação também pode funcionar como um novo evento externo. Na raiva, a pessoa fica desapontada por ter agido de forma indesejável mais uma vez.
Nossa primeira tentativa de mudança é na forma de expressar. É daí que vem o velho conselho de contar até dez antes de reagir, na esperança de sermos capazes de encontrar outra forma de botar pra fora o sentimento. O problema é que, geralmente, só conhecemos duas maneiras de fazer isso: ou da forma primeira que nos vem à mente ou engolindo em seco e guardar para nós.
Se a expressão violenta é ruim, guardar pra si um sentimento ao invés de expressá-lo de forma equivocada pode ser destrutivo. Primeiro porque não resolve o problema. De cara, essa repressão da resposta que queria ter dado é um novo evento que passa por uma nova interpretação, normalmente levando à frustração por não podermos falar o que queríamos.
Além disso, esse acúmulo de sentimentos ruins somatiza de alguma forma. Dores no corpo e depressão podem surgir por conta disso. E, normalmente, de mãos dadas com o mau hábito de acumular está a teimosia em não querer se livrar daquele fardo.
E, como o acúmulo não dissipa sozinho, quando não conseguimos segurar mais uma decepção, geralmente botamos tudo pra fora de forma impensada e amplificada.
Temos então dois pontos de geração de mudanças benéficas: primeiro, aprender a mudar a forma de expressar as sensações que antes botávamos pra fora na forma de atitudes mal educadas e agressivas. Depois, algo tão bom quanto mudar a forma de expressar as sensações: interpretar acontecimentos de formas diferentes, por outras perspectivas. Ao invés de expressar a raiva chutando a porta, que tal nem mesmo ficar com raiva?
Pra isso, é preciso saber que é possível enxergar as situações de outros pontos de vista. E que visões diferentes não são necessariamente erradas.
Para tomar a iniciativa de tentar ver as situações com outra perspectiva, é preciso força de vontade e bastante desprendimento de suas próprias opiniões e conceitos presos há tempos na mente. Pra mim, o que funciona é lembrar desta charge, que resume com perfeição este pensamento.
Começe a se perguntar: será que estou do outro lado do nove?
Durante uma terapia ou até de uma autoanálise, você pode entender e aprender que é possível prestar atenção nos próprios pensamentos e elaborar melhor como chegamos até eles. E isso é uma grande ajuda, porque ao descrever as razões para um determinado pensamento ou comportamento, acabamos compreendendo melhor toda a lógica que há por trás deles.
Nesse processo, acontece de, muitas vezes, percebermos que não havia uma razão sensata por trás daquilo, o que serve de estímulo para abandonar aquele pensamento ou atitude nociva.
A partir daí, começamos a perceber as origens e motivações reais daquela sensação. Você aprende a perceber que a reação indesejada está se formando lá no fundo da mente e então tomar medidas de contenção antes de agir de forma inadequada. A sede de agredir ou de se desesperar ou se deprimir com as coisas, como forma de expressão vai embora e, no caminho, entendemos muito sobre como funcionam os nossos processos mentais.
Ao enxergar as situações de uma perspectiva diferente, geramos sensações completamente distintas. Se a sensação gerada é outra, a expressão é também outra.
A gente sempre tem um longo caminho pela frente. Algumas reações são mais rápidas que nossa consciência e passamos longe de saber lidar com as emoções desagradáveis, como o desapontamento e a frustração. Mas pelo menos saberemos que já descobrimos que existe um bom caminho a seguir.
Aprender isso é descobrir que é só virar uma chavinha na sua mente que tudo muda, dá uma sensação de liberdade que é difícil de descrever. Quando se aprende que se é capaz de dizer "opa, pera lá!" antes de reagir impulsivamente, o monstrinho irracional que vive no fundo da mente se treme todo, amedrontado por ver que seu controle sobre nossas ações está enfraquecendo. Porque a gente esquece, mas quem comanda na nossa mente é a gente e não ao contrário, temos que ficar volta e meia botando ordem lá, se não vira bagunça generalizada. Aí complica!
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