sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A ELETRICIDADE DA VIDA

PARA A FELICIDADE NÃO PRECISAMOS DE ESTIMULO EXTERNO


Resultado de imagem para eletricidade da vida arrepio

O arrepio é uma das maiores evidências de que há algo vivo em nós. Quando perguntamos “Como você está?”, a pessoa pode até pensar nos fatos da vida, mas acontecimentos e situações não tem nada a ver com felicidade ou sofrimento. O que vai definir a resposta positiva é o calor no peito, o espaço para ação, lucidez e criação de sentido. A resposta negativa virá com respiração ansiosa, confusão, incapacidade de atribuir sentidos, seriedade, olhos opacos, peso, dor.
É por isso que nesse texto vou colocar no centro aquilo que consideramos mais periférico. Trocar efeito e causa. Inverter a visão que atribui nossa felicidade ou sofrimento a determinados acontecimentos que supostamente diminuem ou aumentam nossa experiência de bem-estar. Em vez de deixar o bem-estar no final da frase, vou colocá-lo logo de cara como sujeito: é a eletricidade que define se surge felicidade ou sofrimento.
Ilustrando. No sequestro da nossa eletricidade, a dinâmica é a seguinte: O bandido captura a pessoa, joga dentro de um cubículo e diz: “Agora você vai operar sua mente, sua energia, seu corpo dentro desse quarto. Você vai continuar respirando, sentindo, pensando, tudo igual, mas agora você está participando desse jogo chamado sequestro, então vai respirar, sentir, pensar como alguém sequestrado. Tudo bem?”
Todos os jogos, histórias, mundos, realidades, filmes que construímos em nossa vida são sequestros sutis. Ao colocar o anel, o recém-marido diz: “Agora você vai operar sua mente, sua energia, seu corpo dentro dessa relação. Você vai continuar respirando, sentindo, pensando, tudo igual, mas agora você está participando desse jogo chamado casamento, então vai respirar, sentir, pensar como alguém casado. Tudo bem?”. A chefe, o professor, a amiga, o sócio… todos com a mesma fala.
É como se transplantássemos nosso coração em um bonequinho que vive na tela do videogame. Diante da possibilidade de controlá-lo e principalmente de usá-lo para controlar seu mundo, deixamos que ele nos controle. Enquanto os movimentos desse bonequinho nos alegra, tudo ok. O problema começa quando o mundo se desintegra, o bonequinho morre ou apenas perdemos o nível de controle esperado.
Nosso coração sabia bater sozinho, mas passou tempo demais sendo comandado por um coração virtual. Sabíamos respirar, mas passamos tempo demais respirando em função de nosso outro. Tínhamos eletricidade, mas a vinculamos à identidade de marido. Agora, para ativar a energia, precisamos mover o marido. E quando a relação acaba? Ao tentar reconquistar o marido, tudo o que ela deseja é voltar a ser esposa.
Assim que começamos a respirar mal, comer e dormir pouco (ou demais!), assim que perdemos eletricidade e brilho no olho, sentimos uma necessidade urgente de consertar o jogo, ressuscitar o personagem, remontar o mundo. A última coisa em nossa lista de prioridades é resgatar a nossa própria capacidade de respirar, voltar a sentir nossa eletricidade natural, deixar o olho brilhar sem depender de nenhuma visão especial, desentortar o corpo, liberar a mente das condições que a asfixiaram – ironicamente, como já escrevi, é essa a melhor saída para qualquer sofrimento.
Quanto mais dor, mais colocamos nosso foco no personagem, mais tentamos controlar. O casamento que começou como uma brincadeira, uma fantasia, um faz-de-conta, virou realidade sólida, séria, inescapável. A identidade que começou como encenação virou nossa essência. É assim que o sofrimento virtual de um personagem vira dor no peito, falta de ar, vontade de se matar. A confusão se torna cada vez mais real a ponto de transbordar para outros corpos e mentes ao nosso redor. Os sofrimentos se tornam reais na exata medida em que não desconfiamos de sua virtualidade.
Quando chamamos alguém de inteligente, estamos apontando para sua capacidade de entrar em um mundo, se movimentar com alguma coerência (seja respondendo a estímulos ou criando sentidos) e operar sob condições. 
Mente e corpo transitam entre diferentes mundos assim como transitam entre diferentes identidades assim como transitam entre diferentes emoções, pensamentos, micro fenômenos internos. Ver é operar com olhos e inteligência da visão em um mundo visual. Quando nossa mente opera com ouvido, lidamos com sons. Quando opera com conceitos, pensamos.
É por isso que brilho no olho, calor no peito e eletricidade têm sempre a mesma qualidade, não importa em quais mundos ou com quais identidades e inteligências estamos operando. Na verdade, o brilho no olho é igualzinho em todas as pessoas.
Ao reconhecer o mesmo prazer de estar vivo em qualquer pessoa feliz e o mesmo pulmão desesperado em qualquer pessoa aflita, começamos a nos relacionar de modo impessoal com a eletricidade natural: ela não é nossa, ela não é de ninguém e não está fora. 
Quando paramos e cortamos boa parte dos estímulos mais comuns que nos entretêm e movem nossa energia, o que sobra? Quando ficamos sozinhos, sem relação alguma para nos definir, quem nós somos?

Pensa aí !

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