O MUNDO É UM ESPAÇO DE ENCONTRO, DE EMBATE DE VISÕES E OPINIÕES
Reconhecer o outro é admitir a existência de outros olhos, de outros mundos e de coisas que até então não existiam em nosso universo. De fato, abrir-se para o outro é dissolver a si mesmo, é mudar, transformar, morrer e logo renascer. Mas o desejo de se manter igual, contínuo e imutável acaba envenenando o bom relativismo e empregando nossos atos com esta atitude pobre e absurda de separação: “Cada um, cada um. Eu tenho meu ponto de vista, você pode ter o seu…”. O que no fundo quer dizer: “Eu não mudarei, mesmo sabendo que sua visão é mais abrangente que a minha, mesmo sabendo que sua realidade é mais aberta que a minha. Não! Eu construí minha vida inteira em cima de minhas crenças e não é você que vai destruir tudo”. A pessoa não quer morrer, não quer reconhecer a impermanência e cria fantasias de imortalidade, fazendo de tudo para defendê-las.
No amor acontece o mesmo. O namorado pede a amada que o ame do jeito que ele é. Ela, por sua vez, quer sempre ficar com aquele que menos a desafiaria a crescer. O que poderia ser um amor arriscado e sublime vira um sentimento compartilhado de conformismo. Para quem adere a essa atitude, não há diálogo, não há intersubjetividade, não há nada. A mínima abertura pode significar a morte!
O que fazer para viver em uma sociedade em que se valoriza o diálogo? Ora, fingir que conversa, fingir que ouve o outro, simular abertura. Acho muito engraçado observar duas pessoas que mantém uma postura fechada e auto-centrada. Elas podem criar diálogos maravilhosos, mas não há nenhum contato autêntico ali. Eles estão apenas se afirmando perante o outro. Nunca chegam a se encontrar de fato.
Quem ainda não se atolou nessa ilusão pode e deve se intrometer. Se nós também deixarmos todos com suas opiniões, caíremos no mesmo erro. Ao se intrometer, nunca critique o ser, só a postura condicionada (com a motivação de desvincular o sujeito daquele equívoco). Com isso em mente, podemos apontar o erro e esperar que a pessoa aceite morrer. Podemos mostrar que ninguém se mantém o mesmo nem por um minuto. Ajudar o ser a olhar para suas contradições e para os pontos falhos de sua teoria-de-tudo. Afinal, morrer é transcender. Devemos nos intrometer, sim.
O mundo é um espaço de encontro, de embate de visões e opiniões. Temos sempre a opção de viver ou ler um artigo com a atitude teimosa de “Eu tenho a minha visão, você tem a sua”. Mas por que não nos abrir, encarar a nós mesmos com os olhos do outro e se preciso nos deixarmos morrer?
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