sábado, 1 de agosto de 2015

ABRAÇAR. ACEITAR. ACOLHER

AO INVÉS DE TRANSFORMAR AS HISTÓRIAS DOS OUTROS EM HISTÓRIAS NOSSAS, PODEMOS COMEÇAR A ABRAÇAR, ACEITAR E ACOLHER



Mesmo que tenhamos sucesso na tarefa de ouvir as outras pessoas com atenção plena, muitas vezes fracassamos no próximo passo: não tratar nossas vidas como um problema a ser resolvido.
Saiba que dizer o que a pessoa deveria ter feito ou o que você teria feito não são as únicas maneiras de interação com uma pessoa que acabou de se abrir. 
São apenas as maneiras mais comuns, mais rasas, mais egoístas de interagirmos com os relatos de outras pessoas.
É comum  pegarmos a história de outra pessoa e transforma-la em uma história... sobre nós, sobre nossa vida, sobre nossos valores, sobre nossos julgamentos, sobre nossas opiniões.
Do outro lado quase toda pergunta que alguém nos faz já traz em si a resposta desejada.
Muitas vezes, pedimos conselhos não para "saber o que devemos fazer", mas para validar as decisões que já tomamos — nem que essa decisão tenha sido tomada apenas em um nível ainda não consciente.
Todas as mensagem já vem dentro de um contexto pronto. Ao narrar uma história, escolhemos não só os fatos que vamos contar e os que vamos omitir, mas escolhemos também PARA QUEM vamos contar esses fatos.
Por todas essas nuances que há por trás da comunicação, a vida das outras pessoas não é um problema para resolvermos.
Por isso venho tentando sempre exercer uma postura de não-conhecimento e de não-opinião.
Mais importante do que determinar qual é a atitude "certa" que alguém deve tomar, mais importante do que encarar sua história como um problema a ser resolvido ou como um teste que tem uma resposta certa, lembrando sempre que não leio pensamentos e posso estar errado, minha atitude é simplesmente ajudá-lo a entender ou articular o que ele mesmo já decidiu ou está prestes a decidir.
Porque na verdade o verdadeiro conhecimento é mais do que a soma de todos os fatos.
Você vai continuar sem nunca saber ... 
"Como assim "não sabe?" Acabei de te contar a história toda!" . Alguém pode dizer.
Nesse ponto, a pessoa ostensivamente em busca do conselho pode se sentir tentada a empilhar detalhe em cima de detalhe sobre nós, até não podermos mais alegar "falta de conhecimento" para opinar.
O problema é que como já disse o somatório de todos os detalhes do universo não seria jamais suficiente para nos fornecer o conhecimento necessário para saber como outra pessoa se sente, para saber o que outra pessoa deveria fazer e o que vai no seu coração.
Nem todos os fatos do mundo seriam suficiente para me dar acesso à enormidade e à complexidade da experiência de meu amigo consigo mesmo, com seu trabalho, com suas coisas. 
Portanto só resta abraçar, aceitar, acolher.
A partir de uma postura de não-conhecimento e de não-opinião, eu de fato não tenho como dizer ao meu amigo o que deve fazer, mas isso não quer dizer que eu não posso ajudá-lo.
Decida ele o que decidir, posso continuar me dispondo a ouvi-lo, uma das principais maneiras de ajudar qualquer pessoa.
Sem nunca me colocar na posição de "guru-que-tudo-sabe", eu sempre posso...
Abraçar. Aceitar. Acolher.
Sempre que estivermos tentadas a subir no atraente pedestal do conhecimento, para assim distribuir sábios conselhos à pobre ralé lá debaixo, podemos apelar para um truque mental semelhante:
Listar nossas dúvidas, visualizar nossas lacunas, encarar nosso não-conhecimento sobre aquela questão.
Ao fazer isso mentalmente, vamos talvez minar nossa certeza do nosso conhecimento e na propriedade de nossos conselhos e, quem sabe, consigamos até ficar caladas.
Ao fazer isso verbalmente, vamos talvez ajudar nossa interlocutora a refletir sobre sua situação e a decidir o que fazer por si só — sem que sejam necessários nossos ó-tão-adequados conselhos.
E, de qualquer modo, mesmo que consigamos refrear nossos impulsos, será sempre uma vitória temporária: na próxima frase, na próxima interação, na próxima pessoa, no próximo pedido de conselho, zera tudo e começamos mais uma vez.
Teoricamente eu sei  e na prática venho tentando!


Nenhum comentário:

Postar um comentário