terça-feira, 3 de março de 2015

"RECOMENDAÇÕES DE LEITURA"

LER  /   DESLER  

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Mesmo em um país de poucas pessoas leitoras como o nosso, o lobby da leitura é fortíssimo. Não lemos quase nada, mas colocamos a leitura no mesmo altar quase religioso onde já estão a atividade física e a comida saudável. Discordamos em tudo, mas concordamos que deveríamos estar todas lendo mais, malhando mais, comendo melhor.
As pessoas gastam fortunas em comidas saudáveis que não gostam, em academias que não frequentam, em livros que não leem, e depois se martirizam por fracassarem em seus projetos de serem pessoas mais lidas, mais saradas, mais saudáveis.
As pessoas que realmente querem ler leem o tempo todo. Estão lendo agora. Aproveitam cada cinco minutos no trem ou na fila do banco para ler mais duas pagininhas, como um fumante ansioso que aproveita qualquer oportunidade para ir fumar um cigarrinho lá fora.
As pessoas que dizem:
"Ah, eu queria tanto ler mais..." (ou fazer mais ginástica, ou comer mais vegetais, etc).
Não querem realmente ler mais...
Elas apenas acreditam sinceramente que essas atividades (ler, malhar, comer melhor, etc) são realmente boas e indispensáveis para a ideia que estão construindo de si mesmas, de pessoas cultas, saradas, saudáveis, e, por isso, desejam ardentemente querer fazer essas coisas.
Mas não querem. Porque, se quisessem, já estariam fazendo, não querendo fazer.
Seria melhor se ninguém tivesse essa ansiedade: ninguém precisa ler. Ler não é, por si só, bom. Ler é um passatempo como qualquer outro. Existem mil maneiras de aprender os fatos do mundo e de se tornar uma pessoa melhor sem passar pela leitura.
Se gostam de ler, leiam. Se não gostam, não se culpem.
Então, se alguém me perguntar por "recomendações de leitura", recomendo que não leiam nada.
Pergunto: quanto tempo em média passaria lendo um livro de, digamos, duzentas páginas? Oito, dez horas ao longo de quatro, cinco dias?
Então, economize o valor do livro, encontre um lugar tranquilo em sua casa e ocupe esse tempo fazendo alguma jardinagem do seu cérebro, alguma coisa que corresponda a podar galhos ou arrancar ervas daninhas.
Quantos preconceitos, falsidades, distorções, mentiras, estereótipos, lugares-comuns você não tem aí dentro?
Em vez de absorver mais e mais novas verdades, em um verdadeiro frenesi acumulativo cultural, coloque o excesso para fora.
Em vez de ler, des-leia. Em vez de aprender, desaprenda... o melhor a fazer diante de tantas verdades é produzir e criar as nossas próprias, através das nossas vivências, daquilo que é possível. Verdades prontas algumas vezes, é útil. Em outras, só atrapalha.


ROSANE

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