terça-feira, 17 de março de 2015

NA TRILHA DA TRANSFORMAÇÃO

ORGANIZAR E MELHORAR TUDO NA VIDA NÃO SIGNIFICA QUE VOCÊ ESTÁ TRANSFORMANDO AS COISAS


Estamos na era do aprimoramento pessoal. “Como” e “melhorar” são os novos mantras: como melhorar a alimentação, como melhorar o trabalho, como melhorar o relacionamento. Se cada vez mais ouvimos sobre desenvolvimento humano, felicidade e transformação, creio que, talvez seja por que nunca estivemos tão confusos em relação ao que isso realmente significa.
Para começo de conversa. Seria bom diferenciar dois processos - Mudança e Transformação - O problema não se dá no âmbito das palavras, porque chamamos tudo da mesma coisa, o problema é perdemos de vista o processo mais profundo.
Habitualmente, quando se fala em transformação estamos nos referindo a apenas mais um tipo de mudança: de estilo de vida, de hábito, de crença, de trabalho, de cultura, de visão de mundo, de moradia, de relação, de comportamento, de estética…
Porém mudar é diferente de transformar...
Veja: mudamos de relação sem transformar a carência. Mudamos de calmante sem transformar a ansiedade. Mudamos de projeto incrível sem transformar a visão estreita. Mudamos de objetos sem transformar o apego. Mudamos de filosofia sem transformar a ignorância. Mudamos de estratégia sem transformar o medo. Mudamos de casa sem transformar a insatisfação.
Experimente lembrar de seu passado. Quantas vezes você já mudou? E o que você inevitavelmente carregou a cada novo nascimento? Resp: a mesma mente, cada vez mais fascinada por uma nova história. 
Por isso digo que o processo da mudança funciona como uma constante busca por novas experiências. Quando alguém diz "Mudei" na maioria das vezes quer dizer: "Troquei de experiência". Logo, o processo de transformação trabalha com toda e qualquer experiência, com cada vez menos necessidade de buscar por novas experiências ou de alterá-las externamente.
Simplificando: Quando eu me proponho a mudar, eu preciso de novas experiências. Quando eu me proponho a transformar, eu preciso apenas lidar com as experiências existentes. 
É por isso que se diz que os processos de transformação são sutis ou internos: eles dizem respeito ao nosso posicionamento, ao que podemos fazer em absolutamente qualquer situação, independente do que aconteça ao redor. Se você pegar as práticas que envolvem equilíbrio emocional, sabedoria, ou compaixão, nada disso exige uma mudança externa, ainda que possa eventualmente causá-la.
É bom esclarecer que boas mudanças podem favorecer a transformação, mas elas em si mesmo não transformam. 
Então... Produzir mudanças positivas é melhor do que não mudar ou mudar negativamente. Bons hábitos são melhores do que maus hábitos, cultura de paz é melhor do que violência, sonhos benéficos são melhores do que pesadelos. No entanto, em paralelo, melhor ainda se começarmos a acordar. Nosso problema é que conversamos e praticamos quase que exclusivamente os mais variados tipos de mudança, ignorando esse outro processo que aqui estou chamando de transformação.
Um dos piores sintomas da confusão entre mudança e transformação é o discurso de que esse trabalho é algo simples... É chocante: A pessoa passa décadas se dedicando a diversas mudanças e chega confusa ao fim da vida, sem quase nenhuma transformação. Mudar é ótimo. Mas apenas mudar é limitante, principalmente com aquilo que precisa ser liberado, superado, iluminado, não apenas remendado.
O trabalho da transformação é longo, diário, paciente e muitas vezes sujo. Sem oba-oba, sem fogos de artifício. Trabalho para a vida inteira. E isso não é uma fala bonita ou poética, é verdade: precisamos saber como começar, experimentar e conversar mais sobre como ele acontece. Caso contrário, vamos apenas mudar de vida, de novo e de novo e mais uma vez, confundindo nosso ciúme com romantismo, melhorando e pirando cada vez em uma nova história, uma nova dieta revolucionária, um novo hobbie, um novo look, um novo propósito, uma nova prática espiritual, um novo exercício físico, um nova ideia genial, mais um projeto incrível...
Mudar no máximo nos levará a uma versão melhorada de nós mesmos. E isso pode não ser o suficiente!


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