quinta-feira, 26 de março de 2015

MÃE: A DIFÍCIL E DOCE ARTE DE SER

A FELICIDADE DOS FILHOS É INSPIRADA NA CAPACIDADE DA MÃE SE FAZER FELIZ.


Pense com calma sobre isso...
É uma mulher comum, como sua amiga, irmã e colega de trabalho com seus medos e limitações. De repente, num processo de 9 meses de gestação, é alçada à condição de ser sobrenatural. Não é para qualquer um, por isso, a maioria recebe um retorno um pouco controverso dos filhos.
No dia das mães parece que as questões desaparecem e todas as mães são as melhores do mundo. No cotidiano, porém, o que se vê é uma enxurrada de filhos queixosos de suas relações familiares. Os relatos são quase universais: "ela é louca", "me persegue", "nunca me deu o suficiente", "me superprotegeu e estragou".
A razão disso é simples: esse lugar social é superestimado e destinado a uma pessoa tão falível quanto qualquer outra. As mães precisam sustentar contradições dificílimas que chocariam a mente de qualquer um.
Quando surge a gravidez, não é só uma barriga que surge, mas uma correnteza de possibilidades e pressões internas. Como vivemos num mundo supercompetitivo, as crianças já nascem concorrendo, desde o berço, ao mercado de trabalho sem ao menos ter o direito de ser simplesmente razoável, normal.
A mãe então, coitada, se sente impelida a criar um super-humano para não ser chamada de insuficiente ou sentir-se fracassada. É como se dessem uma empresa em suas mãos de um dia para o outro e dissessem: "faça ela prosperar".
E ela tenta, desafiando a tudo e a todos e embarcando no conto de fadas que se cria em torno das mães. Ela finge para si mesma que já não sente nenhum vazio existencial, se certifica de que jamais poderá ter medo novamente e se convence de que jamais estará sozinha nos dias de velhice.
Ela tem ainda três tarefas delicadas: 1)Amar sem se apegar: Cuidar, amamentar, nutrir psicologicamente e, ao mesmo tempo, manter um desprendimento que será testado, inevitavelmente, por volta de vinte e poucos anos de tanta dedicação; 2)Prover sem controlar: o outro desafio é ter que direcionar o desenvolvimento físico, psicológico e social de uma pessoa indefesa, por muitos anos, sem criar uma pretensão que sabe tudo. É muito difícil. Provavelmente, você seria tentado a imaginar que conhece cada dimensão da personalidade dessa pessoa a ponto de saber o que é melhor para ela; 3)Aprofundar sem desaparecer: talvez, a mais difícil das três tarefas seja mergulhar de cabeça numa experiência incrível sem se perder nela. 
Com isso tudo em mãos, a maioria se entrega a um eclipse pessoal e desaparece por completo do planeta Terra, alegando sem nenhum questionamento que tudo o que faz é um ato de amor. Como contestar alguém que se acredita de posse desse mandato divino?
O mesmo dilema que acomete as "mulheres que amam demais" também acomete as "mães que amam demais", são mulheres completamente oprimidas por um papel que as enclausuraram em um sentimento ambíguo e inexplicável. São mulheres que precisam ter a vida resgatada por que, sem se dar conta, abandonaram seus hobbies, sonhos, desejos e felicidade. Sua aparência se tornou sempre cansada e parece não ter tempo para viver. São mulheres que se deixaram de lado sem perceber que a felicidade dos filhos será inspirada na capacidade delas próprias se fazerem felizes e que nada do que fizerem colabora para isso se o espelho que eles têm, não é nada encorajador.
Por isso conduzir a vida com sabedoria ao mesmo tempo que vai gradualmente libertando sua "cria" para o mundo é lei (porque mais dia menos dia você vai precisar reaver o seu posto antigo, sem aquele crachá de super-mulher). Sob pena de quando os seus filhos saírem de casa você, sem poderes especiais, surtar e causar problemas delicados na vida deles, como boicotar inconscientemente o amadurecimento e a partida de casa.
Desejo, portanto que as mulheres que fizeram o impossível possam, além de mães, serem mulheres, amantes, dançarinas, irmãs, primas, sedutoras e um grande ponto de interrogação que abrace todas as possibilidades.


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