TELEDRAMATURGIA BRASILEIRA NA VERSÃO LGBT
Não é por nada não, mas já está ficando cansativo a insistência das telenovelas em abordar o "mundo gay". Nada contra a opção de cada um, mas penso que insistir em colocar a coisa com essa insistência toda acaba, em vez de ajudar, criando uma animosidade maior ainda entre os gays e aqueles que não aprovam a prática.
Agora parece que virou obrigatório um casal gay por trama, no estilo cota, e a novidade pensada dessa vez foi colocar um par da terceira idade. Para tanto foram escolhidas Fernanda Montenegro, de 84 anos, e Nathalia Timberg, também com 84 anos, para encarnarem as homossexuais da próxima novela escrita por Gilberto Braga. Suponho que a ideia dos autores seja quebrar o tabu sobre essa realidade, diminuindo a segregação gay. Até aí dá pra entender, só que nas novelas os personagens gays são caricatas, são forçados. Já sabemos, ou eles se comportam como heterossexuais que nem se encostam ("melhores amigos") ou são o paradigma da "bicha louca" e agora ultimamente resolverem incluir o beijo gay. Creio que isso mais prejudica que ajuda.
Entendo a perspectiva dos autores, eles tentam desesperadamente (no estilo vocês vão ter que engolir) reverter a imagem negativa que a sociedade tem sobre os gays, tentam através desses contos transformar a ideia de uma sociedade que já saturou a sua consciência de imagens que associam a homossexualidade com a vergonha, o pecado, o inadequado. Eles tentam, assim, arrumar um jeito de diminuir o sofrimento homossexual.
Considero louvável essas tentativas, mas penso que não resolve muito ir na contramão da cultura dominante da sociedade tentando desconstruí-la. Pois que a natureza desse sofrimento é consequência de um sistema político em que a heterossexualidade é considerada uma experiência obrigatória, natural, saudável e louvável, enquanto a homossexualidade é considerada desvio ou anormalidade. ... A personalidade é construída a partir da relação com o outro, necessariamente a partir de um ideal, que em nossa sociedade é um ideal heterossexual. Todas as referências positivas fazem parte da identidade heterossexual, enquanto todos os referenciais negativos são relegados à homossexualidade. ... Quando há alguma proposta de positivar a homossexualidade, surge também a acusação de promover a experiência gay. Essa "exigência" da heterossexualidade acaba matando muita gente, e é promovida naturalmente nas escolas, nas religiões e na família.
Concluo que todos temos um limite para o quanto podemos resistir à nossa própria cultura. Ninguém está imune. Todos nós, em algum grau, compramos o discurso dominante, somos cúmplices dele, e o passamos adiante para nossos filhos, alunos e afins.
Creio que a solução seria assumirmos que o "natural" é o "fora da cultura humana"... aí bem, há muitos naturais gays por aí da forma que as novelas querem nos impor.... e ponto final!
ROSANE
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